Geraldo Bessa TV Press
Curioso, observador e bom ouvinte, Bruno Mazzeo tem nos pequenos acontecimentos cotidianos sua principal fonte de inspiração. Boa parte desta percepção particular e cômica que ele tem do mundo é herança de seu pai, o saudoso Chico Anysio. Desde a morte de Chico, em 2012, que Bruno planejava a produção de uma obra documental para mostrar não apenas o talento e a versatilidade do pai, mas também os contratempos e contradições do lado mais humano.
Na docussérie “Chico Anysio – Um Homem à Procura de um Personagem”, com seus cinco episódios já disponíveis no Globoplay, Mazzeo faz questão de distanciar de uma mera homenagem ou especial. “É um mergulho não só na obra, mas na alma de Chico Anysio. É um documentário profundo, como não podia deixar de ser, uma vez que é um filho juntando o quebra-cabeças da vida do pai”, valoriza.
Natural do Rio de Janeiro, Mazzeo tinha apenas 14 anos quando passou a integrar a equipe de roteiristas de “Escolinha do Professor Raimundo”, um dos grandes sucessos protagonizados por seu pai. Aos poucos, foi agregando trabalhos distantes da forte figura paterna e também investindo em uma carreira como ator, se destacando em novelas como “Beleza Pura”, “Cheias de Charme”, na série “Cilada”, que também roteirizava, e, mais recentemente, na minissérie “Fim”, onde viveu o errático Sílvio, seu primeiro papel dramático. “Sou mais escritor que ator. Mas gosto de sair dos bastidores e me divertir atuando com os amigos. É um ótimo exercício de observação também”, avalia.
P – “Chico Anysio – Um Homem à Procura de um Personagem” é sua estreia em documentários. Como foi desenvolver esse projeto?
R – Foi muito especial, talvez o trabalho mais legal da minha carreira. Por ser minha estreia nesse universo dos documentários, eu que sou tão acostumado a partir do texto, tive de aprender uma nova maneira de contar uma história.
Não entrevistei ninguém que não conhecesse profundamente meu pai
P – Em que sentido?
R – Como roteirista, eu sei aonde levar o texto. Como documentarista, são os fatos, as histórias, a pesquisa e as entrevistas que direcionam a produção. A ideia sempre foi aprofundar no Francisco, em paralelo com a trajetória incrível do Chico. O Francisco era um ser humano que tinha falhas, inseguranças, fraquezas e até depressão. Acho que conseguimos mostrar um lindo e verdadeiro retrato do meu pai, sem cair no óbvio.
P – Você teve receio de fazer apenas mais um tributo?
R – A série não se trata de uma homenagem, ou um especial sobre a carreira, mas um mergulho não só na obra, mas na alma de Chico Anysio e em como ele segue no imaginário brasileiro. É impressionante como os personagens e seus bordões continuam vivos na memória do público até hoje.
P – A série documental tem a participação de grandes nomes do entretenimento nacional. Como foi o processo de seleção dos entrevistados?
R – Não entrevistei ninguém que não conhecesse profundamente meu pai e que não tivesse convivido com ele, profissional ou pessoalmente. Tem gente que trabalhou com ele durante anos, como Boni e Daniel Filho, colegas como Fernanda Montenegro, Tom Cavalcante, Cacá Diegues e Renato Aragão, além de todos os meus irmãos, meu tio (Zelito Viana), meu primo Marquinhos Palmeira e ex-esposas, incluindo Zélia Cardoso de Mello.
P – Durante as gravações e montagem, alguma história ou lembrança o tocou de forma mais profunda?
R – São muitas as memórias, impossível citar só uma. Mas fazer este documentário me fez rever algumas delas, seja através de imagens caseiras que utilizamos, seja através de depoimentos de irmãos e parentes. Foi uma viagem também pela história da minha família, uma vez que é um filho juntando o quebra-cabeças da vida do pai.
“Chico Anysio – Um Homem à Procura de um Personagem” – Cinco episódios disponíveis no Globoplay.